domingo, 9 de janeiro de 2011

Quando a cura para a miopia gay é um caso de rivotril

Se não bastasse você navegar por sites e blogs LGBTs em busca de alguma coisa que não seja «Lady Gaga», «BBB 11», «pegação», «garotos sexy», «festas» e «clubes noturnos», ainda somos obrigados a encontrar lideranças do nosso meio esperançosas pela presidente do país e pelos novos ministros e ministras, mesmo que a grande maioria dos ditos-cujos não tenham feita nada, absolutamente nada, pela comunidade LGBT: quanta baixa estima!
O fato de termos uma mulher no comando do Poder Executivo, Dilma Rousseff, não é motivo para ter meu apoio ou repúdio. Não enxergo o mundo em lentes coloridas, rosa-choque ou monocromáticas. O mesmo se aplica ao fato de termos nove mulheres que compõem os ministérios: Helena Chagas (Comunicação); Miriam Belchior (Planejamento); Teresa Campello (Desenvolvimento Social); Ideli Salvatti (Pesca); Maria do Rosário (Direito Humanos); Iriny Lopes (Mulheres); Luiza Bairros (Igualdade Racial);  Ana de Holanda (Cultura); Izabella Teixeira (Meio Ambiente).
Claro, estamos no governo mais feminino da história do Brasil, mas isto não significa nada. Não é significativo, porque o fato de uma pessoa ser mulher ou homem não é motivo para alguém ser melhor ou pior: a Constituição Federal e Código Civil já pregam isso.
E o ranço ideológico que compõe nossas lideranças é lastimável. Com todo respeito aos leitores e leitoras, mas aquelas donas citadas lá em cima repetem um discurso feminista-socialista que não gosta de homens, que vê um mundo bipolarizado em bonzinhas (elas, é óbvio) e malvados (homens, principalmente, mas não exclusivamente, os brancos heterossexuais). Um discurso em que os humanos masculinos são decadentes, autoritários, estúpidos, egoístas, inúteis e estupradores, enquanto os femininos podem ser considerados corretos, estando alinhados com as políticas da atualidade e tendências sociais.
Sobre os LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) em questão, a presidente Dilma em nenhum momento os mencionou ou os considerou, se alinhando a uma postura mais «conservadora» nessa questão. Mesmo assim, seus discursos foram bastante festejados pelos LGBTs dilmistas. Até mencionaram, emocionados e extasiados, as poucas  bandeiras (três?) arco-íris junto à multidão que esteva lá no dia da posse para prestigiar a atual presidente. Que meigo! Realmente, sindo vergonha e pena dessa gente que, e em nome de uma cegeira doutrinária ou partidária, confundem focinho de porco com tomada.
Sendo assim, ser mulher ou homem não é nem mérito nem demérito, portanto sou pessimista em relação ao atual governo. E, para os nossos militantes, digo a eles que não precisamos de discursos que colocam as mulheres no posto de neo-santas; precisamos, e urgente, de um movimento que forme indivíduos mais responsáveis e tolerantes, independente do sexo ou sexualidade.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Milk - O que o filme não mostrou

Não sou de dar crédito a um filme ou livro assim quando o mesmo é lançado. Faz parte da minha teimosia; espero a poeira abaixar, leio alguma informação aqui e ali para depois prestigiar o trabalho de um diretor ou autor. Foi assim que fiz com a película cinematográfica «Milk», do ano de 2008, dirigida por Gus Van Sant.
O filme narra a carreira política do grande ativista gay Harvey Bernard Milk (1930-1978), protagonizado por Sean Penn. É óbvio que não gosto de certas posturas políticas do ator em questão, mas devo assumir que o filme me impressionou. Tudo muito bem falado, a fotografia, então, nem se fala. Você se sente nos anos 1970. Contudo, colocarei aqui alguns pontos interessantes que ficam nas entrelinhas do filme ou mesmo são ignorados.
Milk, no início, não simpatizava com o Partido Democrata. Ele era simpatizante do republicano Barry Goldwater (1909-1998). Numa cena o então namorado de Harvey Milk, Scott Smith (interpretado por James Franco), fica desapontado com certas posturas políticas de Milk e o pergunta: «Mas você não era republicano?». Vale ressaltar que, apesar de republicano, Goldwater era um libertário e lamentava a crescente onda da direita religiosa dentro do Partido Republicano. Sua postura sobre o aborto, os direitos LGBTs, bem como o papel da religião na esfera pública o colocou em choque diversas vezes com os conservadores cristãos.
O conservador Ronald Reagan (1911-2004) apoiou publicamente os direitos da comunidade LGBT e rechaçou a Iniciativa Briggs (ou Proposição 6). Se esta tivesse sido aprovada, gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e possivelmente qualquer um que apoiasse os direitos LGBT seriam expulsos das escolas públicas. Grandes libertários como Justin Raimondo e Roy Childs (1949-1992), bem como o Partido Libertário americano (Libertary Party) fizeram campanha contra a Iniciativa Briggs. Lembrando que os Partidos Republicano e Democrata, apesar da atitude de boa parte de seus membros, não a rejeitaram oficialmente, preferindo a neutralidade.
O filme manipula o apoio do democrata Jimmy Carter, dando a entender que o então presidente norte-americano era pró-gay (na realidade, Carter ficou em cima do muro; atitude que lembra alguns dos nossos políticos tupiniquins atuais). Em contrapartida, Ronald Reagan apoiou a criação de um grupo pró-gay dentro do Partido Republicano chamado Log Cabin Republicans, fundado em 1977, apesar da histeria e chiadeira dos republicanos mais reacionários.
Destaque para o trabalho da ativista lésbica Beth Elliot, contemporânea do Harvey Milk e uma das manifestantes contra a Iniciativa Briggs (e que não foi mostrada no filme). Ela teve uma carreira marcada inicialmente pelo socialismo, vindo a se tornar uma lésbica e feminista que faz uma leitura da história LGBT a partir de uma perspectiva libertária.
Soube da existência de um documentário da década de 1980 sobre Milk, chamado «The Times of Harvey Milk». Você encontra alguns trechos na web. Veja:


Quando se vê a curta carreira política de Harvey Milk, este abriu caminho para os direitos LGBTs e se opôs de forma firme aos esforços horrendos dos fanáticos em torno da Iniciativa Briggs. É óbvio que há alguns aspectos do programa político de Milk que eu, como um liberal clássico, não concordo. Contudo, nós podemos apreciar sua paixão pela justiça e abraçar essa sua característica. Devemos reconhecer o importante papel que desempenhou em ajudar ainda mais os direitos individuais nos Estados Unidos e no mundo modernos.

Referências:

Libertarianism: To Gay, Lesbian, Bisexual, and Transgendered Individuals http://chelm.freeyellow.com/gay_index.html (acesso em 07/01/2011)

Right on the Internet http://igfculturewatch.com/2006/02/16/right-on-the-internet/ (acesso em 07/01/2011)

The Times of Harvey Milk http://www.thetimesofharveymilk.com/ (acesso em 07/01/2011)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Jenny Bailey - Transexual, lésbica e liberal

Ainda me encontro em processo de recuperação da ressaca das festas de final de ano... Mas de qualquer forma desejo aos leitores do blog um 2011 repleto de realizações e na certeza de que este ano será melhor que os precedentes.

Nessas minhas buscas por essa imensidão que é o cyberespaço, deparei-me com uma figura um tanto curiosa. Trata-se de Jenny Bailey, a 801ª pessoa a ocupar a Prefeitura de Cambridge, no Reino Unido (seu mandato terminou em 2008). Pertecente ao Partido Liberal Democrata (filiado à Internacional Liberal), ela é marcada por sua identidade político-pessoal «heterodoxa» (transexual, budista, vegetariana e lésbica). 
 Graduada em engenharia, Bailey nasceu em Doncaster, na Inglaterra, em 1960. Embora fosse anatomicamente do sexo masculino, Bailey afirmou sempre se sentir mulher. Mesmo assim, isso não a impediu de casar e se tornar pai de dois filhos. Após um divórcio amigável com sua ex-esposa, Jenny Bailey se submeteu a um procedimento de tratamento de substituição hormonal e fez a cirugia de redesignação sexual. Nessa época, conheceu sua atual companheira, a também transexual Jennifer Liddle.
Posterior a isso, Bailey entrou na política com o objetivo de implementar diversos planos para melhorar a vida dos moradores de Chesterton, um subúrbio a nordeste de Cambridge. Mesmo consciente da sua condição de transexual, sua visão é abrangente: «Nós, transexuais, só desejamos ser pessoas normais. (...) Quando alguém passa com sucesso por uma experiência como essa, é feliz para poder viver uma vida normal, enfrentando problemas normais. É uma oportunidade estupenda. Não quero que isso (sua transexualidade) eclipse o meu mandato» (grifo meu).
Admirado pela elucidez da ex-prefeita. Os últimos anos, marcados por políticas identitárias que enchem de dinheiro público ONGs e associações que dizem representar os LGBTs (que, na realidade, representam interesses de um grupo seleto de militantes, partidos e empresários) a fala de Jenny Bailey faz todo o sentido. Não importa se você é homem, mulher,  transgênero, homo-bi-heterossexual (estou na fase de ser somente «sexual») ou o raio que o parta; somos indivíduos dotados de vontades, emoções, frustações, erros e acertos.

Referências


Transexual vira prefeita pela primeira vez na Inglaterra http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL41339-5602,00.html (acesso em 05/01/2010)

Transsexual Becomes Mayor in Cambridge, England http://www.foxnews.com/story/0,2933,275498,00.html (acesso em 05/01/2010)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Cervejas, mulheres e feministas

Entre essas conversas virtuais discutia com um amigo sobre picaretagens do quotidiano. A Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (alguém consegue ler esse nome num fôlego só?) determinou a retirada de uma propaganda da cerveja Devassa duma choperia em Vitória, Espírito Santo, e que se encontra publicada em alguns jornais e revistas, entre os quais a Revista Rolling Stones de dezembro de 2010 (número 51, paginas 6 e 7). Vamos ao anúncio: «É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra... Devassa negra encorpada. Estilo dark ale de alta fermentação. Cremosa com aroma de malte torrado» (o resto você encontrará aqui).
Tal propaganda é ilustrada com o corpo de uma mulher negra com apelo sensual. Não é a primeira vez que tal marca se encrenca com grupos feministas e com a CONAR - Conselho de Autorregulamentação Publicitária. Tempos atrás censuraram um vídeo estrelado pela socialite Paris Hilton. Veja o vídeo a seguir:
Agora vamos à minha observação/indignação. Tem cabimento? As feministas (sim, justamente elas) viraram as guardiãs da moral e dos bons costumes? Atualmente, as propagandas empregam corpos esculturais e sensuais para vender seus produtos e, muitas vezes, fazendo alusão à grupos. Afinal, quem nunca bebeu uma loura gelada? Com dizem, a linha que separa a sensualidade da vulgaridade é tênue, mas pelo discurso empregado no anúncio, posso inferir que as palavras foram muito bem colocadas no texto. Não vejo alusão à discriminação racial; não vejo preconceito no anúncio da cerveja.
Vamos voltar um pouco no tempo. Quando José Serra foi Ministro da Saúde (1998-2002), a Associação Brasileira de Negros Progressistas ingressou com uma representação ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a abertura de processo contra ele, José Serra, por racismo. O motivo: a escolha de uma atriz negra para a campanha de prevenção à Aids no Carnaval. Alegavam que tal comercial ofendia as mulheres negras por associá-las à prostituição. Pelo visto não há prostitutas negras no Brasil...
Na época, o Ministério da Saúde alegou que a atriz, Carla Leite, foi escolhida entre trinta candidatas, grupo que incluía mulheres morenas, louras e negras. Pois é, só teria ocorrido racismo se a candidata mais preparada não pudesse protagonizar a campanha pelo fato de ser negra...
Semana passada realizei um passeio com meu sobrinho de cinco anos. Ele é fã do fenômeno teen Justin Bieber, marcado pelo seu visual um tanto andrógino. Passou perto de nós uma garota com um visual bem parecido, com aquele cabelo curto estilo boneco-lego. Meu sobrinho gritou: "«Tio, o Justin!». A adolescente, muito simpática, disse: «Eu também gosto dele». Como dizem, se a interpretação chega com maldade aos olhos da maioria, deve ser porque o preconceito está na cabeça de quem vê e não numa propaganda ou num visual.