sábado, 5 de março de 2011

O sexo no Objetivismo

 Por Luiz Mário Brotherhood

Como prometi bem no comecinho do blog, aí está o trecho sobre sexo, do livro Objetivismo: A filosfia de Ayn Rand, de Leonard Peikoff.

Para falar a verdade, achei esse trecho relativamente insuficiente. Acredito que Peikoff poderia ter aproveitado melhor esse tema tão interessante, que é o sexo. Provavelmente Ayn Rand tenha o feito explicitamente em algum outro lugar.

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O sexo como sendo metafísico

Passo a discutir sexo primeiramente examinando como ele funciona na vida de um homem racional.

Um homem racional precisa saber não só intelectualmente que ele é bom e que o universo é auspicioso, mas precisa também experimentar, sob a forma de uma emoção consumada, a total realidade desses dois fatos que são essenciais à sua ação e sobrevivência. A felicidade no sentido de um prazer metafísico, já dissemos, é um leitmotiv afetivo duradouro, um pano de fundo positivo que condiciona as alegrias e os pesares diários de cada um. Esse tipo de prazer é vital demais para ficar sendo sempre um simples pano de fundo. Às vezes, como um estado intenso de exultação, a própria felicidade torna-se o foco da consciência.

O sexo, na identificação de Ayn Rand, é “uma celebração do próprio eu e da existência”; é uma celebração tanto da capacidade que o indivíduo tem de obter valores quanto do mundo no qual ele os obtém. Sexo, portanto, é uma forma de sentir felicidade, mas a partir de uma perspectiva especial. Sexo é o êxtase de experimentar emocionalmente duas realizações interligadas: a auto-estima e a convicção do universo benevolente.

O sentimento sexual é uma soma; pressupõe todos os valores morais de um homem racional e seu amor a eles, inclusive seu amor pela parceira que o personifica. O significado essencial de tal sentimento não é social, mas metafísico; refere-se não a qualquer valor único ou amor, mas ao profundo interesse envolvido em toda busca de valores: a relação entre o homem e a realidade. Sexo é uma forma peculiar de responder à questão suprema de um ser volitivo: consigo viver? O homem com auto-estima, usando termos cognitivos, conceitos, conclui dentro de sua própria mente que a resposta é sim. Quando ele faz amor, ele conhece esse sim sem palavras, na forma de uma paixão que percorre o seu corpo.

O sexo é uma capacidade física a serviço de uma necessidade espiritual. Não reflete só o corpo do homem nem só sua mente, mas a integração corpo-mente. Em todos os casos a mente é o fator governante.

Há uma base biológica da sexualidade humana e uma contraparte no mundo animal. Mas todas as necessidades e prazeres animais transfiguram-se no contexto do animal racional. Isso fica aparente mesmo com relação a necessidades tão simples quanto alimentação e moradia. Os seres humanos, precisamente porque atingiram a distinção humana, obtêm comparativamente pouca alegria a partir da mera sensação de satisfazer suas necessidades. Seu prazer vem em grande parte das emoções associadas. Vem da constelação de valores conceitualmente formulados que definem a satisfação humana das necessidades. Assim, as alegrias de haute cuisine com amigos especiais entre copos de cristal e peças de tapeçaria num restaurante fino, ou do ensopado de carne acompanhado de vinho com a esposa amada na sala de jantar de sua casa, são coisas muito diferentes do ato de comer um pedaço de carne numa caverna vazia em um lugar qualquer, embora esse ato possa ser igualmente nutritivo e protegido das interpéries. O princípio é que um prazer que um dia foi puramente biológico torna-se, na vida de um ser conceitual, amplamente espiritual. O princípio aplica-se preeminentemente ao sexo. Nenhum prazer humano tão intenso quanto o sexo pode ser predominantemente uma questão de sensação física. Predominantemente, o sexo é uma emoção; e a causa da emoção é intelectual.

O fato de a vida sexual de um homem ser moldada por suas conclusões e juízos de valor fica evidente em todos os aspectos. Fica evidente no cenário que ele prefere, na indumentárias, nas carícias, posições e práticas e no tipo de parceira. Esse último aspecto é particularmente eloqüente.

Nenhum homem deseja todo mundo que há na Terra. Cada indivíduo tem seus requisitos quanto a esse aspecto, por mais contraditórios ou mesmo não-identificados – e os requisitos do homem racional, nesse aspecto como em tudo o mais, são o oposto de contraditórios. Ele só deseja uma mulher que possa admirar, uma mulher que (tanto quanto ele saiba) compartilha de seus padrões morais, de sua auto-estima e de sua visão de vida. Só com uma parceira assim é que ele pode experimentar a realidade dos valores qeu ele procura celebrar, inclusive seu próprio valor. O mesmo tipo de seletividade sexual é exercida por uma mulher racional. É por isso que Roark sente-se atraído por uma heroína como Dominique, e é por isso que Dagny Taggart em Atlas Shrugged quer tanto ir para a cama com John Galt e não com Wesley Mouch. O amor romântico é a mais forte emoção positiva possível entre dois indivíduos. Vivenciá-lo, portanto, longe de ser uma reação animal, é uma auto-revelação: os valores que dão origem a esse tipo de resposta devem ser os valores mais pessoais e mais intensamente defendidos pelo indivíduo.

Quando um homem e uma mulher apaixonam-se – pressupondo-se que os dois estejam livres romanticamente e o contexto seja, de outro modo, apropriado –, o sexo é uma expressão necessária e correta de seus sentimentos de um para com o outro. O “amor platônico”, em tais circunstâncias, seria um vício, uma violação da integridade. O sexo está para o amor assim como a ação está para o pensamento, a possessão para a avaliação, o corpo para a alma. “Nós vivemos em nossas mentes”, observa Roark, “e a existência é a tentativa de trazer essa vida para uma realidade física, de declará-la em gestos e formas”. Sexo é a forma preeminente de trazer o amor para uma realidade física.

O assunto sexo é moral, é um prazer exaltado, é um valor profundo. Portanto, como a felicidade, o sexo é um fim em si mesmo; não é necessariamente um meio para qualquer outro fim, como, por exemplo, a procriação. Essa visão enaltecida do sexo leva a um corolário ético: uma função tão importante deve receber o respeito que merece.

Respeitar o sexo significa abordá-lo objetivamente. O princípio norteador deveria ser: selecione uma parceira que você ame com base em valores que você possa identificar e defender. Então façam tudo que vocês quiserem na cama, desde que seja mutuamente desejado e que os seus prazeres sejam orientados pela realidade. Isso exclui a satisfação sexual indiscriminada e qualquer forma de destruição ou fingimento – entre outros exemplos, a promiscuidade do homem que “caça” na noite, a coação do estuprador, a pretensa fidelidade do adúltero e o fingimento do sádico que diz que sua capacidade de causar sofrimento é um sinal de eficiência. (A fantasia, tanto no sexo quanto em outros departamentos da vida, é uma forma de imaginação e, portanto, legítima, desde que a pessoa não esqueça a distinção entre fantasia e realidade.)

O princípio norteador em matéria de sexo deve ser: aprecie o sexo como uma expressão da razão e da vida humana no sentido total e moral do termo; então, com esse contexto em mente, busque esse valor avidamente.

Esse ponto de vista é o oposto da filosofia atualmente predominante sobre o assunto.

O intrinsecalismo simplesmente condena o sexo. A idéia defendida é que o amor é uma relação entre duas almas que não deve ser manchada pela conexão com o corpo. Nessa visão, o sexo – assim como a riqueza, o prazer e a própria vida – não tem nada a ver com a razão ou com a faculdade conceitual; o sexo é egoísta, “animal”, “materialista”. Tal função só pode ser justificada como um mal necessário, um meio para a procriação. Os verdadeiros idealistas dentre os homens (por exemplo, os padres e as freiras) consequentemente permanecerão moralmente puros praticando o celibato. Quanto ao resto da humanidade, a orientação de que tos precisam é uma lista interminável de proibições: é proibido o sexo antes do casamento, o divórcio, o sexo oral, a masturbação, a contracepção, o aborto.

Essas proibições são um ato de guerra contra a humanidade. São a declaração formal de que alegria é um crime.

“Só o homem que exalta a pureza de um amor desprovido de desejo”, escreve Ayn Rand, “é capaz de uma depravação como um desejo desprovido de amor”. Isso nos traz à típica abordagem subjetivista do sexo. O subjetivista também separa conceitos de perceptos e sustenta que sexo é uma simples reação sensorial, desprovida de causa intelectual. Mas ele diz aos homens para ir em frente e fazer a festa, agarrando qualquer sensação animalesca que queiram sem referência a princípios e padrões. Segundo essa teoria, o amor e um mito, e sexo é simplesmente carnes se retorcendo. Então vale tudo que satisfaça os caprichos da pessoa – sempre que der vontade, quanto e onde der vontade, e com quem ou com o que a pessoa resolver se agarrar.

A identidade básica desses dois pontos de vista é óbvia. Eu gostaria de salientar, entretanto, o júbilo com que ambas as escolas, coerentes com sua interpretação básica, entregam o assunto atração sexual ao domínio da química, dos hormônios, de uma “faísca” inexplicável ou de algo mais, algo – qualquer coisa – que não sejam os valores escolhidos pelo homem, qualquer coisa que permita às pessoas continuar insistindo na idéia de que “o amor é cego”. Esse júbilo é uma forma de triunfo; é o prazer do irracionalista frente á suposta impotência num domínio crucial de seu inimigo: a mente humana.

Pessoas cujas almas são formadas por tais filosofias – juntamente com aqueles que chegam ao mesmo beco-sem-saída moral por conta própria, sem o benefício de idéias explícitas – vêem o sexo de maneira diferente do homem racional. Se uma pessoa não tem auto-estima e vê o universo como senso malevolente, ele não tem motivos para uma celebração metafísica. Mas sua necessidade de auto-estima permanece. Esse indivíduo pode fingir uma concordância com tabus sexuais como indicativa de uma virtude superior de sua parte. Muito mais comum, porém, no mundo ocidental de hoje, é essa forma de praticar o sexo sem restrições, mas procurando reverter causa e efeito enquanto o faz. Esses homens procuram fazer do sexo não a expressão de sua auto-estima, mas o meio de obtê-la (geralmente através da aprovação ou submissão a parceira). Não se pode, porém, obter a auto-estima por tais meios, e assim o sexo torna-se um ato de fingimento e de escapismo. Torna-se não a alegria de ratificar um universo benevolente, mas uma diminuição momentânea da ansiedade causada pela premissa de um universo malevolente. Nesse tipo de abordagem o desejo sexual também é uma auto-revelação. O homem que tenta essa fraude com uma parceira não coagida precisa sentir que ela o acompanha na fraude, que ela está no mesmo nível espiritual que ele ou mesmo num nível inferior.

O sexo humano correto, pelo contrário, requer homens e mulheres de envergadura, no que diz respeito a caráter moral e ponto de vista metafísico. É a tais indivíduos que Ayn Rand refere-se quando escreve, num resumo final, que o espírito humano “empresta significado à matéria insensível quando a molda para que sirva ao objetivo escolhido do indivíduo”. Esse tipo de conduta, continua a autora, leva o indivíduo
ao momento em que, em resposta a seus valores mais altos, em admiração que não pode ser expressa por nenhuma outra forma de tributo, o espírito desse indivíduo faz com que seu corpo se torne o tributo, remodelando-o – como prova, como aprovação, como prêmio – em uma única sensação de tal intensidade de alegria que nenhuma outra aprovação à existência do indivíduo se faz necessária.
Isso é o que deve lhe vir à mente quando você pensa em “moralidade” – esse tipo de êxtase e a criatividade intelectual que está na raiz desse êxtase e a coisa que está na raiz da criação intelectual: o fato do homem-herói enfrentar a natureza como um conquistador; não castidade e pobreza e o gesto de prostar-se diante de fantasmas.

O indivíduo que obtém esses valores objetivistas não diz: “Se não fosse pela graça de Deus, eu não estaria na situação em que estou hoje”. Ele fez por merecer o que tem, e sabe disso. 

Um comentário:

  1. Eu acho esse negócio de gay odioso e diabólico. Não deveriam existir.


    patydosenhor@advir.com


    2424864667

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