quinta-feira, 10 de março de 2011

Um conservador amigo dos gays

Texto sugerido pelo leitor Cotrim. Embora no campo econômico liberais e conservadores tenham certa coincidência, as duas correntes são bem opostas no que se refere às liberdades individuais. Mesmo assim, vale a pena ler!

 Republicano convicto, ligado a Reagan e Bush, o advogado Ted Olson causa espanto por defender a legalização do casamento entre homossexuais

Por Juliano Machado

Era novembro de 2008 e o diretor de cinema americano Rob Reiner almoçava com sua mulher, Michele, e um consultor democrata chamado Chad Griffin em Beverly Hills. Fazia dez dias que os eleitores da Califórnia haviam aprovado a Proposição 8, um referendo que incluía na Constituição do Estado o seguinte artigo: “Apenas o casamento entre um homem e uma mulher é válido ou reconhecido na Califórnia”. A emenda derrubava uma decisão anterior da Suprema Corte Estadual, que autorizava o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Homossexual assumido, Griffin se dizia inconsolável. O casal Reiner, ativista da causa gay, foi então atrás de um advogado renomado que aceitasse entrar com uma ação contra a Proposição 8. Quando uma amiga de Michele lhe sugeriu o nome de Theodore Bevry Olson, a reação foi de indignação: “Ted Olson? Por que eu procuraria esse cara?”.

A surpresa de Michele não era sem razão. Convencer Ted Olson a assumir uma causa dessa parecia uma piada de mau gosto. Aos 69 anos, ele moldou uma imagem de prodígio entre os juristas mais conservadores dos Estados Unidos. Em 1964, foi um dos poucos estudantes de Direito de Berkeley, na Califórnia, a apoiar a derrotada candidatura à Presidência do republicano Barry Goldwater, o “Sr. Conservador”. Nos anos 80, serviu como membro do conselho legal do governo de Ronald Reagan, que lhe deu de presente uma fotografia dos dois com a seguinte inscrição: “Obrigado, de coração”. A fidelidade republicana ficou notória em 2000, quando Olson defendeu George W. Bush na histórica disputa com o democrata Al Gore para saber quem seria o novo presidente americano. Ele convenceu a Suprema Corte a interromper a recontagem de votos na Flórida e pôs Bush na Casa Branca. Como prêmio, ganhou o cargo de procurador-geral, exercido entre 2001 e 2004. Como um homem desses, “o advogado de Bush”, poderia topar dedicar seus esforços a favor do casamento gay, algo que outros conservadores repudiam com todas as forças?

Olson topou, para espanto geral. Em maio passado, tornou-se o representante legal de dois casais gays – as mulheres Kristin Perry e Sandy Stier, que criam quatro filhos, e os homens Paul Katami e Jeffrey Zarrillo. Eles entraram com uma ação numa corte federal contra o governo da Califórnia para derrubar a Proposição 8. O caso ganhou projeção nacional com o nome de Perry versus Schwarzenegger – curiosamente, o governador Arnold Schwarzenegger também é a favor do casamento entre homossexuais. O juiz Vaughn Walker já ouviu acusação e defesa e deverá anunciar sua sentença no mês que vem. A expectativa de Olson é que o caso vá parar na Suprema Corte dentro de dois anos.

CAUSA
Ted Olson em seu escritório, em Washington. No detalhe, Kristin Perry (à esq.) e Sandy Stier, um dos casais gays defendidos por Olson

É evidente que tanto liberais quanto conservadores tentaram encontrar justificativas para a decisão de Olson, que aparentemente estava jogando no lixo todo o seu passado. Alguns de seus colegas republicanos achavam que só poderia haver “perdão” pela suposta traição a seus princípios caso Olson tivesse um homossexual na família – ele não tem. Outros, mais radicais, preferem nem tocar no assunto com o amigo. Do lado democrata e dentro da comunidade gay, há até quem ainda desconfie de sabotagem – Olson teria aceitado o caso para forçar uma derrota em nível federal e enfraquecer a causa. Nada disso.

Alguns republicanos disseram que só um gay na família poderia justificar a “traição” de Olson

Segundo o próprio Olson, não há nenhuma incoerência entre suas convicções legais e o apoio aos gays. Como um conservador, ele diz defender sempre a liberdade do indivíduo e o direito de não sofrer interferência do Estado em sua vida privada. Proibir o casamento gay, portanto, seria um desrespeito a ambos os princípios e a Proposição 8 uma medida inconstitucional. “A Declaração de Independência americana diz que a vida, a liberdade e a busca da felicidade são direitos inalienáveis. Que melhor forma de realizar essa aspiração nacional senão aplicar os mesmos direitos a homens e mulheres que se diferenciam dos outros somente por sua orientação sexual?”, diz Olson em um artigo à revista Newsweek. Para ganhar a simpatia dos liberais, convidou o respeitado advogado David Boies, seu adversário no caso Bush versus Gore e amigo na vida fora dos tribunais, a dividir a causa. Boies aceitou o desafio.

Nesse mesmo texto, Olson diz que até hoje nenhum de seus amigos, entre eles religiosos radicalmente contra o casamento gay, conseguiu lhe expor um argumento razoável para impedir que os homossexuais tenham o mesmo direito de qualquer outro casal. Uns alegam que isso desvaloriza o objetivo da procriação da espécie. Para Olson, o fato de permitir aos gays que se casem não desestimula a união entre heterossexuais e seu provável interesse em ter filhos. Na visão dele, como a homossexualidade não é uma questão de opção, a proibição não vai cumprir um papel de encorajar gays a ter relações heterossexuais. Outro argumento de Olson diz respeito à “aberração” legal criada pela Califórnia depois da Proposição 8, que dividiu os habitantes do Estado em três categorias: héteros, que podem se casar livremente; gays que podem viver juntos em uma “união doméstica”, mas sem direito a casamento; e, por fim, gays que se casaram antes da vitória do referendo e, agora, não podem partir para um segundo matrimônio se quiserem o divórcio.

Dentro de casa, Olson tem o apoio incondicional da advogada Lady Booth, sua quarta mulher – a anterior, Barbara, morreu no avião sequestrado por terroristas que se espatifou no Pentágono em 11 de setembro de 2001, dia do aniversário dele. Sua mãe, Yvonne, ficou preocupada com a repercussão do caso, mas depois consentiu. O problema mesmo será convencer um país em que apenas cinco dos 50 Estados já aprovaram o casamento entre homossexuais. Amigos mais próximos de Olson dizem que ele está empolgado com a causa como se fosse um iniciante e teria dito que é a mais importante de sua carreira. Segundo Paul Katami, um dos gays defendidos por ele, Olson lhe disse para planejar o casamento com Jeffrey Zarrillo daqui a alguns anos. Vinda de um advogado que participou de 56 processos diante da Suprema Corte e venceu 45, essa promessa faz crer que o defensor de maior peso dos gays americanos saiu justamente do ninho inimigo.

9 comentários:

  1. Muito interessante o texto, não conhecia. A questão é que o "causa" gay virou tão monopólio da esquerda que as pessoas nem param para ouvir quem se declara conservador ou liberal, afinal. E sempre se espantam ao ouvir falar que dá pra ser gay e não ser de esquerda...

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  2. Pois é, DPNN! Se nos EUA há um grande advogado conservador que luta pela igualdade entre LGBTs e heterossexuais, por que não aqui no Brasil? Acredito que seja devido ao partidarismo que ainda marca muito a militância gay por aqui. Como disse, não sou conservador e nem defendo o conservadorismo. Mas reconheço que numa democracia eles também são importantes, assim como os liberais, libertários, sociais democratas, etc. A democracia não é monopólio de um grupo, movimento ou partido.

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  3. O David Cameron tambem é libertario:http://jesusdobrasil.blogspot.com/2011/02/governo-britanico-quer-ampliar.html

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Olá a todos , sou heterossexual e conservador , e gostaria de deixar um comentário aqui .
    No Brasil temos o exemplo do Reinaldo Azevedo que é conservador e tb é a favor do casamento gay , e eu mesmo sendo conservador tb sou a favor do casamento homossexual .
    O casamento entre pessoas do mesmo sexo não restringe a minha liberdade individual .
    a seguir são palavras de Jonh Locke .
    "” O fim de uma lei não é absolutamente abolir ou diminuir a liberdade, mas conservá-la e aumentá-la. Com efeito, em todos os Estados cujos membros são criaturas capazes de terem leis, onde não houver lei alguma não haverá tampouco liberdade alguma. Pois a liberdade consiste em estar-se isento de constrangimento e de violência da parte de outrem: o que não se poderia encontrar onde não houvesse nenhuma lei, e onde não há, conforme dissemos acima, uma liberdade graças à qual cada um pode fazer o que lhe agrada. Pois, quem pode ser livre quando o humor ressentido de outro homem qualquer puder impor-se sobre ele e dominá-lo? Mas o homem goza de verdadeira liberdade quando pode dispor livremente e como quiser de sua pessoa, suas ações, suas propriedades, de todo o seu Bem próprio, segundo as leis sob as quais viva, e que fazem com que não esteja sujeito à vontade arbitrária dos outros, e sim que possa seguir livremente a sua própria vontade.
    Do que concluímos que, para julgar se uma lei é boa ou má, basta verificar em que grau ela protege ou restringe as liberdades individuais e coletivas.”
    Veja bem porque eu sou conservador e a favor do casamento gay , no ultimo parágrafo o autor diz ,"Do que concluímos que, para julgar se uma lei é boa ou má, basta verificar em que grau ela protege ou restringe as liberdades individuais e coletivas.” Bem pessoas do mesmo sexo se casando não infringe minha liberdade , por tanto não sou contra vcs casarem .
    PS : Eu acredito que muitas pessoas tem preconceito contra homossexuais por causa do comportamento de alguns , na parada gay por exemplo , muitos usam drogas , ficam nus , praticam sexo em vias públicas , referente a isso , eu sou extremamente contra ( tanto heterossexuais como homossexuais ) , eu acho que deveria ser no sambódromo que é um local fechado , pois a partir do momento em que alguns usarem drogas , ficarem nus e praticarem sexo em vias públicas , eles estarão infringindo a liberdade de terceiros e isso eu sou contra .
    E talvez por isso muitas pessoas estigmatizam todos os homossexuais de uma mesma maneira , vou ser bem sincero , eu mesmo achava isso , eu pensava que todos se comportavam assim , mas agora estou vendo um outro lado que eu não conhecia , e achei bem legal . Parabéns .

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  6. http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-adocao-de-criancas-por-gays/

    Esse é uma matéria do Reinaldo Azevedo que é conservador , mas é favorável ao casamento homossexual e adoção de crianças por casais do mesmo sexo .
    É bem parecido com o que eu penso e eu também sou conservador .

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  7. Esse blog é mto bom deveria continuar ser atualizado

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  8. Gente, os textos são legais e tal, mas por favor, aumentem o tamanho da letra e o espaçamento entre as linhas, quem te problema de visão não le, serio eu que leio normalzinho tava penando, as linhas estavam embaralhando.
    Mas os textos são bem interessantes ;D

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  9. Acho que a palavra Casamento deve ser definida aqui, casamento só é possível entre duas pessoas de sexo diferente, pois a lógica do casamento é religiosa e visa a procriação.

    Porém isso é diferente de dar aos gays os direitos civis provenientes de uma união estável como o tão sonhado e polêmico direito à adoção.

    Eu sou a favor de que casais gays recebam tais direitos, porém não sou a favor do casamento RELIGIOSO, pois isso acaba indo contra os direitos individuais dos religiosos, que tem o direito de não aceitar o casamento dos gays em âmbito religioso.

    Ora, cabe ressaltar que atitudes como o da pastora Lanna Holder ao invés de ajudar na questão da paz, acaba criando mais confusão pois a pretensão de tornar o cristianismo adequado a determinada conduta causa mais dissensões do que aceitação aos gays.

    Esse é o meu pensamento sobre essa questão, e me perdoe se ofendi alguém com ele, minhas sinceras desculpas, no mais queria demonstrar meu apoio à iniciativa de vocês por demonstrar que os gays tem voz na direita, repetindo o grande Clodova.

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