segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entrevista com Luis Margol

Luis Margol é o polêmico jornalista que escreve a coluna gay Chuecadilly Circus em Libertad Digital.

Trata-se de um caso curioso, já que na Espanha não são comuns colunas fixas sobre questões gays na imprensa em geral, mas certamente o que mais surpreende é a dura análise que faz Luis Margol do movimento gay e dos seus políticos.

Quando Luís pega sua caneta todos tremem, desde os mais obcecados homofóbicos até os gays mais militantes. Está claro que Luis Margol é uma das personalidades gays mais críticas do movimento [LGBT]; é essa voz dissidente que surpreende alguns e incomoda outros, mas é necessário – e muito saudável – que exista.

Em AmbienteG decidimos entrevistá-lo para conhecer um pouco mais a pessoa por trás da controvérsia e seus motivos.

AmbienteG: Quem é Luis Margol? O que faz quando não é jornalista?
Luis Margol: Quando não sou jornalista faço quase tudo, ensinar, escrever sobre outros assuntos, traduzir e ver muita televisão. Estudei política na Espanha e nos Estados Unidos e logo viajei muito pelo mundo graças a um trabalho numa consultoria estrangeira. Depois regressei a Espanha, voltei a viajar... E quem sabe se dentro de algum tempo irei outra vez.

AG: Como surgiu Chuecadilly Circus?
LM: No "Liberdad Digital", graças ao Mario Noya e à Paloma García Ovejero, uma jornalista do COPE (Cadena de Ondas Populares de España).
Eu trabalhei no "Libertad Digital Televisión", o canal que a empresa tem em Ono, e "Imagenio y Digital Terrestre" em Madrid e Valência, passava o dia contando histórias e reclamando das coisas que eu não gostava dentro do mundinho político gay, foi quando numa tarde Mario me disse: "te desafio a começar a colocar tudo isso por escrito" e, logo depois, Paloma me deu algumas ideias. Assim começou tudo. Os leitores gostaram, de modo que se tornou uma colaboração fixa.
Na vida muitas coisas surgem das situações mais inesperadas, como uma conversa na máquina de café.

AG: O que você mais gosta e o que menos gosta dessa Chueca [bairro gay madrileno] que nomeia sua coluna?
LM: O que eu sempre gostei foi da variedade, que não diminui a intensidade, apesar dos esforços de padronização que promovem o movimento gay oficial e algumas revistas.
O que menos gosto é a conversão do bairro numa espécie de parque temático e a ideia difundida e aceita por alguns que só em Chueca se pode ser livre.

AG: Você diz ser Liberogay. O que isto significa para você?
LM: Que sou individualista. Aprecio muito o que o movimento gay oficial tem feito aqui e em outros países, mas não penso que a igualdade de direitos e o fim da violência e da discriminação contra os gays, lésbicas, etc ... tenha nada a ver com uma revolução socialista ou uma sociedade de grupos fechados e isolados uns dos outros.
Sem a contribuição do liberalismo clássico, com sua ênfase na cooperação através do comércio e do livre fluxo de ideias e pessoas, e as revoluções burguesas que tiraram os seres humanos de destinos marcados pela raça, pela religião, pelo ambiente físico e mostrou que um pode transcender a herança recebida e que ser homem, mulher, negro ou mesmo analfabeto não significa que um vá ser mais ou menos rico ou pobre na vida; [sem isso] o progresso dos últimos séculos não teria sido possível.
Mercados livres, mentes livres, corpos livres e associações livres da interferência estatal e da ação de lobbies de qualquer tipo que pretendem tirar dinheiro do Estado para obrigar as pessoas a fazer o que [elas] não querem.

AG: Por que você acha que muitos gays de esquerda não entendem a existência dos gays de direita?
LM: Não creio que não os compreendam. Há algum otário que não os entendem, mas no geral, sabem que eles existem e que têm boas razões para sê-lo.
Se a direita consiste em não querer mudar tudo, ou propor uma alternativa melhor ao que já tem, ou seja, não o puro niilismo da destruição porque sim, então eu sou de direita. Se ser de direita consiste em se opor ao autoritarismo dos nacionalistas e à planificação econômica, então sou de direita. De qualquer maneira, em alguns setores da direita não sou nada popular, e me chamam de progressista. Se pensar que uma mulher tem o direito de abortar significa ser de esquerda, então sou de esquerda, ainda que se [ela] quiser fazer isso, que pague com seu dinheiro, algo que segundo alguns me faz de direita...

AG: Realmente existe um lobby gay na Espanha?
LM: Claro, o lobby gay é um entre muitos. Se um grupo deseja que o Estado lhe dê dinheiro para que eles possam influenciar a sociedade, por vezes de forma obrigatória e sempre através dos políticos, isso é um lobby. Infelizmente, na Espanha muitos poucos grupos se propõem influenciar a sociedade se não mediante a exigência de privilégios aos governantes, privilégios que no final os enfrentam, de forma inevitável, outros que também querem um pedaço de bolo.

AG: O que de tão ruim tem feito Zerolo, Beatriz Gimeno, a FEGLT [Federación Estatal de Lesbianas, Gays, Transexuales y Bisexuales]... para que sejam o centro da sua atenção?
LM: Beatriz Gimeno disfarça seu comunismo baixo ao caráter libertário da luta pela igualdade dos gays, lésbicas, etc. O que ela quer é que a Espanha seja como Cuba, que é seu modelo. É amiga de Mariela Castro, sobrinha do Fidel. E além do mais diz um monte de besteiras, como deveria haver discriminação positiva com as pessoas LGBT – disse numa entrevista ao "El Mundo" – e que todas as mulheres deveriam ser lésbicas, pois ser heterossexual é ser pior. Passamos de um extremo ao outro, de sentir vergonha por ser homossexual para pensar que somos melhores que os outros. Essa atitude só cria a homofobia, é contraproducente.
Zerolo se vendeu ao PSOE (Partido Socialista Obrero Español). Além disso, seu objetivo sempre foi monopolizar o poder e dizer aos gays o que teríamos que pensar e até mesmo como deveríamos nos vestir. Lembra que ele foi co-proprietário da revista "Shangay," algo que por algum motivo foi mantido em segredo. Por quê? No final, esses movimentos comunitários são uma fraude, um quiosque de praia montado por caudilhos de terceira que se querem pôr ferro e mandar.

AG: Tem tido problemas pessoais pelas opiniões expressas em sua coluna?
LM: Não muitos. Alguma discussão azeda com os amigos, tanto de esquerda como de direita, alguma queixa e muitos insultos bem ridículos em sítios como Dos Manzanas e Hazte Oír. Campanhas ridículas de destruição pessoal que retratam a quem as levam a sério. E algum mal-entendido: dentro de alguns dias tenho um ato de conciliação no juizado com um senhor e sua esposa, a quem elogiei numa coluna de forma humorística e fui mal compreendido. Poucos dias depois troquei o artigo, mas não estão satisfeitos e agora me solicitam uma retificação.

AG: Está ou tem estado envolvido com alguma associação gay?
LM: Não tenho nem nunca estive. Fui a reuniões da COGAM entre 1986 e 1992 e não gostei do que vi. Numa, se dedicaram a conversar dos mísseis da OTAN e a elogiar o Partido Comunista. Naqueles anos, os gays eram perseguidos nos países comunistas, como agora. Noutra conversa, o tema foi o imperialismo americano e a defesa dos sandinistas. Parecia ridículo.
Eu tenho um cartão de crédito comum e acredito que uma pequena parte do que gasto vai para a FELGTB, isso é tudo. Neste momento sou apenas membro de duas associações profissionais, e tudo o que faço é pagar as taxas. Não sou aficionado a movimento associativo de nenhum tipo.

AG: Você poderia nomear um personagem (gay ou não) que admira por seu trabalho de normalização do fato homossexual?
LM: Se Miguel Sebastián foi gay, algo que ele nega embora muitos dentro do PSOE proclamam, diria que ele, ainda que como ministro é tão ruim e incompetente que quase melhor que, se fosse gay, não o diga.
Também o escritor Álvaro Pombo e o juiz Grande Marlaska. E se não tivesse escolhido para entrar no armário quando começaram a trabalhar para o Partido Popular, apontaria outras duas pessoas que se zangariam muito se dissesse seus nomes agora. A esses os colocaria como exemplos do que não há que fazer nunca, acovardar-se ou vender-se aos políticos – alguns começaram a defender a igualdade e terminaram assistindo a homenagens ao juiz Calamita, como Zerolo mas ao contrário. No exterior há muitos casos – na Inglaterra, os três grandes partidos pressionaram seus gays para que saiam do armário e assim evitar escândalos sexuais –, mas prefiro manter-me aos espanhóis.
A Boris admiro-o como empresário e como trabalhador, mas acho que no final só perpetua sua imagem de bicha franquista. É uma pena.
SUSANA. Entrevista a Luiz Margol (13/02/2009) http://www.ambienteg.com/personajes/entrevista-a-luis-margol (Tradução e adaptação por Q-Libertários!)

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