Nobel para Cristina Kirchner? Menos...

Uma das coisas que mais me deixa impressionado é a falta bom senso de boa parte das lideranças LGBTs de raciocinar e uma necessidade excessiva de idolatrar e bajular políticos, artistas e celebridades em geral. Refiro-me à legalização das uniões homossexuais pela presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, e uma campanha não-oficial de alguns militantes gays para que a mesma receba o Nobel da Paz entre outras premiações (não é brincadeira; falo sério).

Concordo que é uma vitória dos LGBTs argentinos pelo reconhecimento oficial de suas uniões conjugais (ou casamentos, caso prefira). O que não dá é querer beatificar a senhora Kirchner, transformando-a numa “El Salvadora” do século XXI.

E uma leitura mais detalhada da biografia da digníssima soberana do Plata nos mostrará que ela não é tão “democrática” e a favor dos “direitos humanos”, como é tão propagado por aí.

Todo mundo lembra do ano passado, quando o jornal El Clarín (que faz oposição à atual presidência) foi invadido por cerca de 200 agentes da Receita para fiscalizar supostas “irregularidades”. A isso soma-se o fato de a presidente propor no Congresso argentino uma nova Lei dos Meios Audiovisuais que amplia os poderes do Estado sobre os meios de comunicação eletrônicos no país, criando uma cota de um terço dos canais de TV para o setor privado. O restante seria dividido entre organizações sociais escolhidas pelo governo (ONGs submissas e sindicatos) e por canais do próprio governo. É uma forma mais “light” de se lidar com o assunto, não? Claro, a “presidenta” voltou atrás depois que a ação no Clarín virou manchete nos quatro cantos do mundo.

O prêmio Nobel da Paz foi criado para distinguir pessoas ou instituições que estiveram envolvidas em ações de aumentar a fraternidade entre os povos, envolvidas em campanhas pelo fim dos conflitos bélicos e pela manutenção e promoção da paz. A senhora Kirchner não preenche nenhum dos requisitos acima (se bem que depois de Al Gore, em 2007, e Barack Obama, em 2009, terem sido laureados com o prêmio, passei a ficar com um pé atrás com os deputados finlandeses...).

A mesma presidente que faz discursos em “prol” da causa LGBT é a mesma presidente que ameaça jornalistas, abraça e paparica ditadores que perseguiram homossexuais e, vez ou outra, vem com o discurso bairrista de “Las Malvinas son argentinas“ (mesmo sabendo que  os habitantes locais, quase todos descendentes de britânicos, preferem continuar ligados ao Reino Unido...).

Estou farto de ver políticos, artistas, músicos, militantes, empresários e tantos outros usarem os LGBTs como meio de se promover e ganhar em cima dos mesmos (Lady Gaga que o diga!). A presidente da Argentina apenas cumpriu seu dever de casa. Quiçá os demais chefes de Estado e governo façam o mesmo.

REFERÊNCIAS

Cristina aperta o cerco e envia fiscais à redação do Clarín

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,cristina-aperta-o-cerco-e-envia-fiscais-a-redacao-do-clarin,432756,0.htm (acesso em 23/07/2010)

Cristina Kirchner promulga lei que permite casamento gay na Argentina http://www1.folha.uol.com.br/mundo/770589-cristina-kirchner-promulga-lei-que-permite-casamento-gay-na-argentina.shtml (acesso em 23/07/2010)

Mordaça no jornalismo argentino e latino-americano

http://aeiou.expresso.pt/mordaca-no-jornalismo-argentino-e-latino-americano=f546393 (acesso em 23/07/2010)

"Não queremos ser colonizados pela Argentina", diz representante do governo das Malvinas

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2010/02/22/nao-queremos-ser-colonizados-pela-argentina-diz-representante-do-governo-das-malvinas.jhtm (acesso em 23/07/2010)

Soberania nas Malvinas é 'irrenunciável', diz Cristina Kirchner

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL385538-5602,00.html (acesso em 23/07/2010)