sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Gays liberais?

Por Cláudio Shikida

No dia 18 de junho, São Paulo teve sua principal avenida, a Paulista, ocupada pela passeata do movimento GLBT. Uma polêmica ocorreu pelo fato de a prefeitura lhes cobrar uma taxa. A filosofia liberal não teria nada contra a cobrança da taxa se a lei fosse igual para todos. Entretanto, a motivação alegada para a cobrança foi a de que haveria publicidade na passeata. Qual o problema? Afirma-se que passeatas religiosas, por não possuirem faixas e cartazes de propaganda, não são submetidas à mesma cobrança.
Se isto é o que diz a Lei, então o movimento GLBT está correto em reclamar. A cobrança pelo uso da avenida deveria se dar pelo seu uso privativo por determinado grupo. Se um grupo religioso faz uma passeata, está fazendo propaganda de sua crença tanto quanto o movimento GLBT. Em outras palavras, isso permite interpretar a intervenção governamental como uma discriminação ao movimento GLBT em prol de um grupo religioso.
Eu não sei o que define um gay, uma lésbica ou algum outro tipo de denominação das preferências sexuais. Parece-me polêmico dizer que a pessoa “escolhe” ser ou não isto ou aquilo. E, para ser sincero, isto não faz diferença para o que estamos a analisar aqui: o papel do Estado na diminuição das desigualdades.
Dizem que o mercado é imperfeito e que não dá conta do problema da discriminação. Será mesmo? Reportagem recente da Isto É Dinheiro mostra que não. Homens de negócios, sob a ética do mercado (sim, leitor, a ética do “horror econômico”, do “capital sem rosto”, etc), ao perceberam a existência de consumidores cujas preferências não foram atendidas, arriscam-se a fazer isto. Assim temos turismo e seguro para gays e o treinamento de funcionários de hotéis para atenderem adequadamente os casais gays. Até casa de câmbio já existe para este público.
O que estas notícias todas mostram é que mercados podem diminuir a discriminação na sociedade. Mais ainda, ela mostra que a busca pela tolerância através do Estado é um caminho perigoso. Se hoje os religiosos são favorecidos relativamente ao movimento GLBT, amanhã o contrário seria outra forma tão cruel e desumana de discriminação.
Será que o movimento GLBT já leu Adam Smith? Creio que ele não era gay, mas não merece ser discriminado por isto, certo?

Publicado originalmente em http://www.imil.org.br/artigos/gays-liberais/ (acesso em 01/01/2010)

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