quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Entrevista com André Fischer


Quem diria, mas realmente o ano de 2000 ficou para trás faz tempo e parece que foi ontem. Aqui vai uma entrevista realizada naquele ano da “virada do milênio” com o jornalista e escritor André Fischer. Ele é uma figura um tanto “curiosa”. É criticado por parte da militância (leia-se: esquerdista) LGBT, mas ao mesmo tempo é organizador do festival nem um pouco “ortodoxo” Mix Brasil. Não o conheço pessoalmente e sei de poucas coisas sobre ele. Mas devo dizer que concordo com algumas de suas posturas, como defender o capitalismo e a democracia. Aqui vai alguns trechos de uma entrevista antiga, concedida à Revista "Isto É" (nº. 1619, 11 out. 2000).

ISTOÉ – O que você acha errado no movimento gay?
André Fischer Os grupos fazem normalmente um trabalho político-partidário, vinculado às alas mais radicais dos partidos de esquerda. Esse, para mim, é o maior erro. Lançaram 30 candidatos a vereador em todo o Brasil nas últimas eleições, e nenhum se elegeu. Na análise dos resultados, eles culpam sempre a falta de mobilização dos gays. Para mim, a culpa é do discurso, que está inadequado. Não me considero burro ou alienado mas, nas reuniões, me senti alijado por não pertencer ao PT, ao PCdoB ou ao PSTU. A maioria dos gays não se sente representada pelo movimento porque acha o discurso ultrapassado.

ISTOÉ – O que você acha do projeto de parceria civil entre pessoas do mesmo sexo apresentado pela ex-deputada federal Marta Suplicy?
Fischer – Esse é outro ponto. Em relação ao vazio anterior, é sem dúvida um avanço. Mas acho o projeto velho, ruim. Vejo com desconfiança a idéia de se criar, nos cartórios, um livro, separado dos outros, com o registro da união das bichas da cidade. E outro livro, também separado do bolo, com as escritas sobre a união das sapatonas do distrito. A proposta mais moderna, que começa a ser adotada em países europeus, estabelece o pacto civil de solidariedade. O casal, independentemente do sexo, relaciona a situação financeira e o patrimônio de cada um ao oficializar a união. Ao mesmo tempo, fixa as regras para o caso de separação. É mais fácil de fazer, de desfazer, e tem o grande mérito de não discriminar sexo. Serve para casal heterossexual e homossexual. Acho até que seria mais fácil aprová-lo do que o projeto da Marta.

ISTOÉ – Nesta edição, muita gente deve ter se espantado com um dos convidados, Del LaGrace Volcano...
Fischer – (...) Com tanta variação, não há motivo para colocar as pessoas em “gavetas” de homossexuais, heterossexuais, bissexuais, ou de qualquer coisa.

ISTOÉ – Como assim?
Fischer – Vou explicar melhor. Tenho ótima relação com a minha família e nunca tive nenhum problema em assumir que tenho namorado. Mas não quero que me rotulem de gay porque não sei como será no futuro. Quero ter direito de não ser cobrado se tiver vontade de voltar a ter uma namorada. Vivi o preconceito às avessas anos atrás, quando pensei em ter um relacionamento com uma mulher e os amigos caíram de pau.

A entrevista completa pode ser obtida aqui.

4 comentários:

  1. Muito boa a entrevista, gostei particularmente quando toca no discurso dos candidatos que tentam representar o pessoal homo, não consigo me sentir representado por nenhum dos que se apresentaram. Aliás, essa esquerda é muito interessante. No Jornal da Noite da Band (dia 28 deste mês) teve uma no mínimo matéria cômica com o governador do Paraná, Roberto Requião, um bolivariano escancarado. Em um congresso sobre cãncer de mama acusou o pessoal gay de ser responsável pelo cancer de mama nos homens ("...coisa de parada gay e essas coisas"), pouco depois na mesma reportagem foi desmentiso pela maior autoridade médica no assunto: dos 200 casos registrados no Brasil não se encontra um único caso de homossexual. E aí?!... Aonde é que fica o discurso de esquerda agora?!

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  2. Muito interessante ouvir e ver aquele que deu a Chávez o título de cidadão paranaense, e uma das vozes da esquerda debochando do pessoal homo. Está aí o vídeo no youtube
    http://www.youtube.com/watch?v=BaPbSFVvcL8&feature=player_embedded

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  3. Olá, Mano! Desculpe, mas só agora vi seu comentário. E, por sinal, muito bom. Volte para comentar sempre que quiser...

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  4. Olha, acho mesmo super legal criticar a tal esquerda. Mas acho que cabe aos que são inteligentes, criticar a esquerda sem defender a direita. Direita e esquerda são farinhas do mesmo saco, tão podre quanto. Ambas causaram sofrimentos absurdos ao ser humano. Portanto, desculpem, mas do meu modo de ver, não adianta nada criticar o comunismo para defender o capitalismo. Ou vice-versa! Dá na mesma e os instrumentos usados nessas críticas são os mesmos. Se o comunismo causou milhões de mortos e sofrimento absurdo, o capitalismo idem. As complexidades humanas atuais não permitem mais maniqueísmos e dualidades, há mais cor que apenas o branco e o preto.
    Acho que seria super legal criticar o discurso da esquerda, mas sem validar o da direita. Tenho nojo dos dois.
    Desculpem novamente, mas não gosto de André Fischer! Como é possível gostar de uma pessoa que se acha melhor que os outros e não queria pagar nada para ter o seu ônibus na Parada - quando todos pagavam - e ainda queria o melhor lugar na mesma para o seu veículo? ué, se ele defende o capitalismo, o tal capital deve ir só para as mãos dele?
    É válido um ser que humilha o próximo pela roupa que veste ou pelo dinheiro que não tem? Uma pessoa não deveria ser julgada pelo seu caráter? Ou seria pelas roupas, pelo TER antes do SER? è isso o correto, o certo?
    É certo virar a cara para homossexuais pobres financeiramente? É justo? as depois usar sexualmente esse mesmo homossexual pobre, se ele tiver pau grande? Então, pode-se odiar o pobre, mas não o membro do pobre?
    É certo ter mais de nove sites e empresas pornôs e estimular o mito de que todo gay é promíscuo? Que todo gay só pensa em sexo? É certo criticar a Parada Gay, mas usá-la para promover seus sites, boates, produtos? É honesto isso?
    O senhor Fischer só demonstrou em sua vida interesse pelos seus próprios direitos comprados, já que vive em uma bolha de conforto e excelência. Então, um mendigo gay não teria direito aos mesmos Direitos do senhor Fischer?
    É correto eu apenas estimular nas pessoas a futilidade, estimular o mito ardiloso e violentador da "juventude eterna" e discriminar gays mais velhos? É correto isso?
    As propostas da tal direita e do capitalismo não me parecem, de forma alguma, perfeitas e mais justas. Querem criticar a esquerda? ok! Podem me chamar que eu ajudo! Mas sem ficar valorizando o capitalismo e a direita, a armadilha é a mesma. O ser humano tem a total capacidade de pensar além e acima de esquerdas e de direitas. Não somos melhores que ninguém e estamos todos na mesma canoa furada...
    Ah, se quiserem não publicar e moderar este, tudo bem, mas nada de ficarem me chamando de "stalinista" por que, além de não criativo, não cola. Tenho tanto nojo de Stalin como de Nixon, Reagan e etc. É a mesma corja.
    Obrigado,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br
    http://dividindoatubaina.wordpress.com/

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